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Inflação e dólar ameaçam o país
Diretor do Banco Central diz que brasileiros ainda vão sofrer com preços altos e defende barreiras contra o excesso de capitais que provoca distorções na economia
O diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Luiz Awazu Pereira, admitiu ontem que o Brasil ainda conviverá com elevados índices de inflação, até que a economia absorva os choques de preços das commodities, mercadorias com cotação internacional. Somente os produtos agrícolas ficaram, em média, 60% mais caros desde julho do ano passado, ressuscitando no país velhos hábitos do período hiperinflacionário, como a estocagem de alimentos e as máquinas de remarcar preços nos supermercados, conforme mostrou o Correio na edição de domingo. A perspectiva, porém, é de que, a partir do segundo semestre, os índices inflacionários passem a convergir para o centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%.
Segundo Pereira, boa parte da alta das commodities decorre do grande fluxo de capitais que circulam pelo mundo. Em vez de serem destinados ao setor produtivo, os recursos vão para a compra de contratos de mercadorias nas bolsas internacionais, jogando os preços, especialmente os dos alimentos, para cima. Por isso, ele defendeu esforços do Brasil para criar barreiras contra o capital estrangeiro, pois a enxurrada de dólares — o país recebeu US$ 34 bilhões em menos de três meses — está pressionando a inflação e a estabilidade dos mercados financeiros. “Estamos enfrentando, agora, uma grande enxurrada de liquidez internacional”, disse o diretor do BC, dirigindo-se a executivos de bancos em um fórum no Canadá. “Algo bom em excesso pode ser um problema”, assinalou.
Na avaliação de Pereira, as atuais e incomuns condições de liquidez estão afetando os sistemas de crédito dos mercados emergentes. Por isso, ressaltou ele, os bancos centrais precisam prestar atenção nos efeitos dos fluxos de recursos que ameaçam a estabilidade financeira mundial, adotando, se necessárias, medidas de controle de capitais.
Em meio aos alertas do diretor do BC, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) informou que o sólido crescimento econômico na América Latina esconde duas velocidades dentro da região e posturas diferentes frente a fenômenos como a entrada maciça de capitais. O Brasil, exportador de matérias-primas e voltado para os países de economia emergente, e o México, dependente das nações industrializadas, são os dois modelos atuais de expansão regional.
“O grupo liderado pelo Brasil está muito bem situado em um mundo em que as economias emergentes são o motor de crescimento. Os preços das matérias-primas são altos e os fluxos de capitais estão entrando nesse grupo para aproveitar oportunidades e perspectivas brilhantes”, destacou o BID. “A outra face da moeda é representada pelo grupo liderado pelo México, cujos membros compartilham laços comerciais muito mais fortes, tanto em bens quanto em serviços, com países industriais.”
As perspectivas de crescimento para ambos os grupos são, por isso, bem diferentes: 4,4% no caso do Brasil e seus seguidores, e de 2,7% para o México e seu grupo. O BID coloca no grupo do Brasil a Argentina, a Bolívia, o Chile, a Colômbia, o Equador, o Paraguai, o Peru, o Uruguai, a Venezuela e Trinidad e Tobago. No grupo mexicano estão todos os países centro-americanos e caribenhos, com exceção do Haiti.
FGV amplia índices de confiança
A Fundação Getulio Vargas (FGV) ampliará as pesquisas que medem os índices de confiança dos consumidores e dos empresários. A meta será captar, com maior eficiência, as expectativas quanto ao comportamento futuro dos preços. O aperfeiçoamento dos indicadores foi acertado entre a FGV e o Banco Central, que terá ainda mais subsídios para medir a percepção da população e do setor produtivo quanto à inflação. As novas metodologias dos índices constarão do relatório trimestral de inflação que será divulgado na quarta-feira, 30, pelo BC.